terça-feira, 18 de maio de 2010

De Bragança a Miranda do Douro

Depois da serra seguimos em direcção ao Rio Douro. Estrada fora, mais uma vez, curva após curva, compreendendo melhor o porquê dos transmontanos se manifestarem de forma tão veemente pelo fecho das urgências em algumas das localidades do distrito de Bragança. É aqui que a distância para o hospital é mais próxima.
A Casa de Caçarelhos é um dos bons exemplos de como um agro-turismo pode ajudar a dinamizar uma aldeia com conforto, simpatia e simplicidade estão garantidos.

Não temos pressa, nós, por isso continuamos, lentamente, rumo a Miranda do Douro, cidade pouco movimentada mas extremamente ordenada e com respeito pela memória, especialmente na conservação da traça das habitações, quase todas em pedra, sobretudo na zona histórica, onde se destacam as ruínas do Castelo, a Sé e o Edifício Episcopal. E claro, o nome não engana, cidade com uma relação privilegiada com o rio que desagua na cidade Invicta, por isso local ideal para passeios de barco, essencialmente aos fins-de-semana.
E há até lugar a algumas surpresas para os turistas mais incautos, como um lisboeta que sofregamente tirava fotografias às placas com os nomes das ruas: “Que estranho, o nomes estão em Português e em Francês”. Não, não é Francês, naturalmente, é o tão tradicional e polémico Mirandês, idioma (não dialecto) natural do latim e um misto entre o leonês e o galego-português.
Um Mirandês que continua ser escutado em alguns locais, especialmente entre os mais velhos e não apenas utilizado para coisas básicas do quotidiano mas também para filosofar.
Depois da serra, o Douro. Muda o horizonte, ficam as características que tornam a região inesquecível: uma alegre misantropia.
Aqui fica registada numa versão traduzida, naturalmente uma conversa entre três idosos na aldeia de Avelanoso, ao som das badaladas do sino da igreja: “São três da tarde. Quando o relógio está no princípio da corda adianta-se sempre um bocadinho. Quando está no final, atrasa-se.
Dá-se corda uma vez por semana. A verdade é que nunca se consegue controlar muito bem o tempo. É ele que nos controla a nós, até acabar a corda”. Em que outra parte do país isto poderia acontecer?

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