quarta-feira, 12 de maio de 2010

De Bragança a Rio Onor

Rota da Terra Fria Transmontana, assim se chama o percurso com cerca de 400 quilómetros que é possível explorar ao longo desta região, com passagens pelos concelhos de Bragança, Vinhais, Vimioso e
Miranda do Douro, por entre os trilhos e veredas, casas típicas de xisto, as aldeias de ontem, as tradições de hoje, as alheiras e o mel, a Serra de Montesinho e o Rio Douro. Convenhamos que isto sempre cá esteve, mas agora é tudo mais fácil de encontrar, por isso deixou de haver desculpa para evitar uma região que tem fama de ser difícil de visitar devido às suas dificuldades de acessibilidade. Basta consultar o site www.rotaterrafria.com, levar no bolso o guia e seguir as muitas placas espalhadas ao longo de toda a rota.
Montesinho é uma das serras com mais encanto de Portugal.
Não pela grandiosidade, mas pela suavidade da paisagem.

O ponto de partida está ao critério de cada um. Nós decidimos sair de Bragança e seguir em velocidade de cruzeiro até à mais típica e mais conhecida aldeia da região: Rio de Onor. O objectivo desta rota não é apenas alcançar o destino, mas saborear tudo aquilo que se vai encontrando ao longo do seu trajecto, sendo muitas as pequenas aldeias que se vão sucedendo.
O centro histórico da capital transmontana, é uma das máscaras presentes no Museu Ibérico do Traje e da máscara, em Bragança e com vista do Rio Douro.
Não terão o mesmo encanto a nível de paisagem, por exemplo, o projecto das Aldeias de Xisto, na Serra da Lousã, e acima de tudo, não possuem o mesmo nível de conservação, mas têm uma característica que poucos locais conseguem superar: as pessoas.
Quintanilha é a primeira povoação que se nos depara pelo caminho, onde poderá visitar a Capela da Nossa Senhora da Ribeira, à chegada a Guadramil, já envolta no verde pungente da Serra de Montesinho.
A Rota da Terra Fria é um bilhete de ida às mais profundas raízes de Trás-os-Montes. Às suas tradições, aos seus sabores, e até mesmo às suas gentes.
Mais mulheres do que homens, de olhos espantosamente claros, olhar lúcido e conversa fácil, ao contrário do que muitas vezes acontece nos lugares mais isolados. “Para onde vão? De onde vêm? De Lisboa? Conhecem o Hospital dos Capuchos? A minha sobrinha trabalha lá e outro é polícia”. São às vezes perguntas, outras respostas, sempre com sorrisos, não o de Montesinho, dizem, igual àquele que podem comprar em algumas lojas da região, mas daquele puro, escuro, espesso, “que cura as constipações e gripes melhor do que qualquer remédio”, numa tradição cumprida à beira da estrada, onde as carcomidas mas sábias mãos separam o suco das flores que as abelhas depositam nos alvéolos.
Algumas das casas recuperadas na aldeia de Rio de Onor; uma das raras habitantes de Guadramil; mel fresco; e vista de Bragança a partir da Pousada de São Bartolomeu. O Rio de Onor.



E assim continuamos, após quase uma dezena de sentidos acenos, em direcção a Rio de Onor, que se apresenta poucos minutos à frente. A mais emblemática das aldeias nordestinas, a mais bem recuperada, apesar de aqui e ali se verem alguns atropelos ao bom senso e qualidade arquitectónica, ainda assim dona de uma imensa aura. De um lado está a parte portuguesa, do outro está Rihonor de Castilha, duas aldeias, separadas por uma fronteira que apenas as cartas geográficas conseguem decifrar, que desde tempos ancestrais vivem num sistema comunitário, “cruzando” famílias, partilhando tradições e dividindo as tarefas e os utensílios nos círculos agrícolas, ainda hoje, quase a única fonte de rendimento dos seus habitantes. Como em todas as terras que realmente interessam, há um pequeno rio, há um tanque comunitário, um café e tempo.
Está na hora do regresso. Uma placa indica Espanha e Sanábria, sendo que aqueles que tiverem tempo e vontade não devem deixar o famoso Parque Natural do Lago de Sanábria, com extensão de mais de 20 mil hectares –, outra leva até Bragança. É por aqui que seguimos, com paragem na aldeia de Varge e no restaurante “o Careto” para comer um naco de posta à mirandesa. Lá fora, uma família corta as carnes do porco, puro e caseiro. Em que outra parte do país isto poderia acontecer?

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